quarta-feira, 15 de julho de 2009

Self-voyeurism

Hímen transposto, a entropia reina absoluta. Entre o oxímoro que nega o dito e a doblez que acrescenta ardilosamente algo ao óbvio, tento caminhar. À margem da presunção, pretensão, vaidade, orgulho, pedantismo, provincianismo, ignorância, tirania, ciúme... ou marginalizado por estes traços tão recorrentes? Quiçá o tempo possa elucidar questão de ontologia tão profunda quanto passível de ser notada claramente por um observador mais atento. Busco emitir apenas os sons que guardo em mim, pois ao passo que as células se movimentam emitem vibrações/sons e delas(es) não se pode fugir. E cá estamos, contraditoriamente como sempre, vomitando idiossincrasias a um interlocutor sem cara, sem voz. Gostaria que você estivesse aqui.

Paulinho da Viola, reconhecidamente gênio da canção, interpreta lindamente algo que ele mesmo escreveu como um bom leitor de si mesmo que é: "sem melodia ou palavra pra não perder o valor..." (Coisas do mundo minha nêga, originalmente lançada no play Memórias Cantando de 76). Sentença, paradoxalmente, de altíssimo teor semântico, pois reitera a limitação de nossa fruição icônica. A própria melodia, mesmo desatrelada do oral-verbal, da letra, entrega intencionalidades que invariavelmente não condizem com as pensadas pelo autor. O que dizer das palavras? A estas, reservo Fernando Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!" Mesmo que nos esforcemos para buscar a terminologia correta, que carregue consigo o sentido exato... em vão. Mesmo a linguagem representativa/icônica dos sistemas operacionais/informáticos, que traduziram em imagens as mensagens do mediador universal do conhecimento, o número - e seu código binário -, ao menos arrisca-se na aventura de desvendar os descaminhos anímicos e psíquicos do ser.

Somos anti-naturais. Esta mãe segue seu fluxo intacta apesar de nossas ingerências. As formigas, abelhas e elefantes não trabalham. Suas atividades são imanentes. Subsistentes. Nós somos os únicos seres que trabalham abnegados para explodir a mais mais-valia e implodirmo-nos em um niilismo cada mais patente. Vidas desgostosas, sem romance, sem poesia. E aquele que clama por um fio de transcendência é duramente castigado, impiedosamente rotulado: um pessimista, um mal-amado! Daí a frase de Paulinho elevar-se em relevância: a harmonia(musical), suprimida na sentença, seria o campo fértil para a conotação, para o onírico, para o tempo suspenso e, sobretudo, para o sentido do que eu gostaria de te dizer todos os dias, todas as horas e minutos. Para o intangível.

Ainda nos resta o self-voyerism. Conceito auto-explicativo, por ser etimologicamente óbvio, mas que pressupõe um distanciamento do objeto de análise. Você. Eu precisamente. Nós longe de nós.

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