quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rádio: o tambor tribal de Mcluhan


Trata-se de um ensaio produzido para o Intercom, no qual a Prof. Dra. Nelia R. del Bianco empreende uma leitura critico-compreensiva do texto em questão, que integra a clássica obra do autor canadense, Understanding mídia: The extensions of man.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009


RÁDIO NO CIBERESPAÇO: DO HIPERTEXTO AO EXTRATEXTUAL - Artigo Completo_Download pdf


O objetivo do presente artigo é verificar analiticamente as aplicações da linguagem radiofônica no ciberespaço, bem como as alterações/adaptações da mesma neste ambiente partilhado por cérebros e máquinas e está dividido em dois momentos. O primeiro visa categorizar comparativamente as intermodalidades das quais se valem o rádio no espaço reticular, a saber: hipertextos circunscritos, performances de gosto e ecossistemas sócio-técnicos. Em um segundo momento vamos interpretar a prospecção do rádio em um ambiente que, da transmissão sem fios de outrora, na contemporaneidade extrapola o hipertexto e o mero compartilhamento de arquivos para apostar na interface em seu lato sensu. Para tal tarefa, faremos uso do referencial teórico-metodológico que propõe o deslocamento dos meios às mediações, entronizando desta forma a linguagem radiofônica exposta no ciberespaço não como premissa de um aparato tecnológico, mas sim como constitutiva dos novos modos de relação do público com o veículo.



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Self-voyeurism


Hímen transposto, a entropia reina absoluta. Entre o oxímoro que nega o dito e a doblez que acrescenta ardilosamente algo ao óbvio, tento caminhar. À margem da presunção, pretensão, vaidade, orgulho, pedantismo, provincianismo, ignorância, tirania, ciúme... ou marginalizado por estes traços tão recorrentes? Quiçá o tempo possa elucidar questão de ontologia tão profunda quanto passível de ser notada claramente por um observador mais atento. Busco emitir apenas os sons que guardo em mim, pois ao passo que as células se movimentam emitem vibrações/sons e delas(es) não se pode fugir. E cá estamos, contraditoriamente como sempre, vomitando idiossincrasias a um interlocutor sem cara, sem voz. Gostaria que você estivesse aqui.
Paulinho da Viola, reconhecidamente gênio da canção, interpreta lindamente algo que ele mesmo escreveu como um bom leitor de si mesmo que é: "sem melodia ou palavra pra não perder o valor..." (Coisas do mundo minha nêga, originalmente lançada no play Memórias Cantando de 76). Sentença, paradoxalmente, de altíssimo teor semântico, pois reitera a limitação de nossa fruição icônica. A própria melodia, mesmo desatrelada do oral-verbal, da letra, entrega intencionalidades que invariavelmente não condizem com as pensadas pelo autor. O que dizer das palavras? A estas, reservo Fernando Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!" Mesmo que nos esforcemos para buscar a terminologia correta, que carregue consigo o sentido exato... em vão. Mesmo a linguagem representativa/icônica dos sistemas operacionais/informáticos, que traduziram em imagens as mensagens do mediador universal do conhecimento, o número - e seu código binário -, ao menos arrisca-se na aventura de desvendar os descaminhos anímicos e psíquicos do ser.
Somos anti-naturais. Esta mãe segue seu fluxo intacta apesar de nossas ingerências. As formigas, abelhas e elefantes não trabalham. Suas atividades são imanentes. Subsistentes. Nós somos os únicos seres que trabalham abnegados para explodir a mais mais-valia e implodirmo-nos em um niilismo cada mais patente. Vidas desgostosas, sem romance, sem poesia. E aquele que clama por um fio de transcendência é duramente castigado, impiedosamente rotulado: um pessimista, um mal-amado! Daí a frase de Paulinho elevar-se em relevância: a harmonia(musical), suprimida na sentença, seria o campo fértil para a conotação, para o onírico, para o tempo suspenso e, sobretudo, para o sentido do que eu gostaria de te dizer todos os dias, todas as horas e minutos. Para o intangível. Ainda nos resta o self-voyeurism. Conceito auto-explicativo, por ser etimologicamente óbvio, mas que pressupõe um distanciamento do objeto de análise. Você. Eu precisamente. Nós longe de nós.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Strange Fruit


Clementina de Jesus

Clementina era de Jesus mas também era da Silva. A cara preta do Brasil. Empregada doméstica, seu pai era violeiro e a mãe, de sangue e de santo, entoava pontos, ladainhas, jongos e partidos. Quelé, alcunha que recebera ainda na infância, transpirava cultura africana e a adolescência em Oswaldo Cruz foi marcada pela participação no bloco carnavalesco As Moreninhas e pelas apresentações nas rodas de samba da Portela, agremiação que teve que deixar de freqüentar anos mais tarde por conta de seu casamento com um tradicional mangueirense da época, Albino Pé Grande. Como se a razão, geográfica, machista, imperativa ou não, pudesse impedir um grande amor. Bobagem.

Só em 64, depois de uma vida limpando e ordenando os nobres lares da zona zul carioca, o poeta e compositor Hermínio Bello de Carvalho a convidou para fazer um concerto ao lado do violonista Turíbio Santos, numa aventura já incensada àquela altura, que objetivava reunir manifestações musicais populares e eruditas, uma performance crossover. Ela aceitou, mas o público refutou e o projeto minguou. Um ano depois se daria o lançamento definitivo de Quelé como cantora. Nascia uma sexagenária estrela. Tudo a seu tempo. E de cara, dividia palco com parceiros contumazes de Hermínio: Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Araci Côrtes.

O samba-homenagem composto por Medeiros intitulado Clementina, cadê você?, arremessa–nos ao abismo da dúvida. E para amesquinhar o sofrer, tomamos a liberdade de responder ao autor e a todos os que compartilham da mesma: Clementina deve estar em Dacar, no Senegal, cidade que abrigou sua grave voz no Festival de Arte Negra, realizado por lá em 66, um marco. Pois se D`África vem, Pr`África retorna. Seu lamento ainda ecoa, ressoa na semente do samba, benguelê de Angola, onde o boi não berra, sofre sem queixumes e aguarda a sua vez.

Abaixo, Hermínio declara toda a sua devoção a quem chamava de Pixinguinha de rendas e introduz um samba que compôs em parceria com o portelense Paulinho. Sei lá, mangueira.

sábado, 22 de agosto de 2009

Strange Fruit

Cartola



Agenor não. Muito prazer, Angenor de Oliveira, seu criado. Satisfação. Sou nascido no bairro no Catete, mas antes de completar minha primeira década de poesia mudei-me para as Laranjeiras. Logo passei a freqüentar o morro, lugar de gente simples, trabalhadeira, de onde não mais me afastaria. Até tentei estudar, mas o cavaco e suas minguadas quatro cordas, além do trigueiro violão, só permitiram que eu terminasse o primeiro grau.


De mais a mais, quando tinha quinze anos minha santa mãezinha veio a falecer. Gota d’água para a boemia. Minha profissão? Tipógrafo, lavador de carros, pedreiro. Aliás, das obras dos homens veio este meu apelido. Cartola para proteger o cabelo penteado do cimento que suja e o endurece ainda mais. Mas o que gosto mesmo é de samba. Ao lado de meu mais constante parceiro – e os verdadeiros se contam nos dedos de uma mão – Carlos Cachaça, fundei o Bloco dos Arengueiros, que mais tarde, contando com a força da rapaziada dos outros blocos da comunidade, transformara-se na mais importante escola de samba do mundo – pois se é do Brasil é do mundo – Estação Primeira de Mangueira, minha paixão. E veja você, fiz questão de dar nome e cores, magia verde e rosa.


Já fiz muita coisa nessa minha vida, até de radialista já joguei. Advinha qual era o nome do meu programa? A voz do morro – homônimo do grupo que formamos anos depois, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros e eu – no qual só eram apresentados sambas inéditos, ainda sem título. Os nomes eram escolhidos pela audiência. Tudo idéia dela. Impossível passar por mim e não ver o meu amor. Eusébia Silva do Nascimento, a minha Zica. Daí o nome Zicartola. A humilde bodega que montamos serviu de palco para o namoro entre morro e asfalto depois que aquela moça, a Nara Leão, passou a freqüentar as cercanias. A malandragem agradece.


Mesmo com um sem-número de sambas compostos fui gravar meu primeiro disco solo eu já tinha 66. Tem nada não, foi até bom, o tempo é senhor. Hoje choro de alegria e não disfarço, pois minhas cordas de aço hão de fazer o sol brilhar mais uma vez. Corra o olha o céu.




terça-feira, 18 de agosto de 2009

Strange Fruit


Pixinguinha


Menino bom, Pizindim. Alfredo da Rocha Viana Filho cresceu ouvindo os genitores barbeiros do ainda guri chorinho em sua casa. Seu pai, músico, tinha por costume reunir os convivas das redondezas, Irineu de Almeida, Quincas Laranjeiras, Pinguça, Cândido Trombone e outros para aquela curtinha, alvinha do bate-papo. O garoto Pixinguinha e seus irmãos apenas observavam. Crianças são sugestionadas pelo meio em que vivem e suas aptidões seguem o fluxo. O texto musical transformara a família de seu Alfredão em cordas, sopros, batuques; teatros, circos e cinema.

Apresentações na Lapa de baixo com apenas 16 anos além de performances nas grandes emissoras radiofônicas da época eram comuns, mas nada como o cordão dos carnavais e as charangas das quais fazia parte, animando os foliões que gentilmente acotovelavam-se em tempos de folguedo popular de fato.

Chico Dunga, como também era chamado, teve a oportunidade de ser patrocinado por um milionário da época, Orlando Guinle. O bacana bancou turnê ao exterior dos Oito Batutas, grupo que Pixinga formara com Donga, China, Nelson Alves e outros figurões que perpetuariam a linguagem do samba-choro que hoje conhecemos. Apresentaram-se em importantes nações européias com direito a temporada de seis meses em Paris. Consagração e muito trabalho os esperavam no Brasil, pra onde voltariam e de onde nunca mais sairiam. Da infância humilde em Catumbi ao suntuoso teatro Dancing Schérazade em Paris, Pixinguinha, rebento de ventre livre, traçou sua trajetória com a singeleza do verso mais afamado do tema mais executado de nosso repertório popular, Carinhoso, que foi cantado em coro por duas mil vozes em seu sepultamento, a 17 de fevereiro de 1973: “Meu coração, não sei porquê, bate feliz, quando te vê...”

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Self-voyeurism

Hímen transposto - não duvido mais dos blogueiros, considero-me um -, a entropia reina absoluta. Entre o oxímoro que nega o dito e a doblez que acrescenta ardilosamente algo ao óbvio, tento caminhar. À margem da presunção, pretensão, vaidade, orgulho, pedantismo, provincianismo, ignorância, tirania, ciúme... ou marginalizado por estes traços tão recorrentes? Quiçá o tempo possa elucidar questão de ontologia tão profunda quanto passível de ser notada claramente por um observador mais atento. Busco emitir apenas os sons que guardo em mim, pois ao passo que as células se movimentam emitem vibrações/sons e delas(es) não se pode fugir. E cá estamos, contraditoriamente como sempre, vomitando idiossincrasias a um interlocutor sem cara, sem voz. Gostaria que você estivesse aqui.

Paulinho da Viola, reconhecidamente gênio da canção, interpreta lindamente algo que ele mesmo escreveu como um bom leitor de si mesmo que é: "sem melodia ou palavra pra não perder o valor..." (Coisas do mundo minha nêga, originalmente lançada no play Memórias Cantando de 76). Sentença, paradoxalmente, de altíssimo teor semântico, pois reitera a limitação de nossa fruição icônica. A própria melodia, mesmo desatrelada do oral-verbal, da letra, entrega intencionalidades que invariavelmente não condizem com as pensadas pelo autor. O que dizer das palavras? A estas, reservo Fernando Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!" Mesmo que nos esforcemos para buscar a terminologia correta, que carregue consigo o sentido exato... em vão. Mesmo a linguagem representativa/icônica dos sistemas operacionais/informáticos, que traduziram em imagens as mensagens do mediador universal do conhecimento, o número - e seu código binário -, ao menos arrisca-se na aventura de desvendar os descaminhos anímicos e psíquicos do ser.

Somos anti-naturais. Esta mãe segue seu fluxo intacta apesar de nossas ingerências. As formigas, abelhas e elefantes não trabalham. Suas atividades são imanentes. Subsistentes. Nós somos os únicos seres que trabalham abnegados para explodir a mais mais-valia e implodirmo-nos em um niilismo cada mais patente. Vidas desgostosas, sem romance, sem poesia. E aquele que clama por um fio de transcendência é duramente castigado, impiedosamente rotulado: um pessimista, um mal-amado! Daí a frase de Paulinho elevar-se em relevância: a harmonia(musical), suprimida na sentença, seria o campo fértil para a conotação, para o onírico, para o tempo suspenso e, sobretudo, para o sentido do que eu gostaria de te dizer todos os dias, todas as horas e minutos. Para o intangível. Ainda nos resta o self-voyerism. Conceito auto-explicativo, por ser etimologicamente óbvio, mas que pressupõe um distanciamento do objeto de análise. Você. Eu precisamente. Nós longe de nós.