sábado, 22 de agosto de 2009

Strange Fruit

Cartola



Agenor não. Muito prazer, Angenor de Oliveira, seu criado. Satisfação. Sou nascido no bairro no Catete, mas antes de completar minha primeira década de poesia mudei-me para as Laranjeiras. Logo passei a freqüentar o morro, lugar de gente simples, trabalhadeira, de onde não mais me afastaria. Até tentei estudar, mas o cavaco e suas minguadas quatro cordas, além do trigueiro violão, só permitiram que eu terminasse o primeiro grau.


De mais a mais, quando tinha quinze anos minha santa mãezinha veio a falecer. Gota d’água para a boemia. Minha profissão? Tipógrafo, lavador de carros, pedreiro. Aliás, das obras dos homens veio este meu apelido. Cartola para proteger o cabelo penteado do cimento que suja e o endurece ainda mais. Mas o que gosto mesmo é de samba. Ao lado de meu mais constante parceiro – e os verdadeiros se contam nos dedos de uma mão – Carlos Cachaça, fundei o Bloco dos Arengueiros, que mais tarde, contando com a força da rapaziada dos outros blocos da comunidade, transformara-se na mais importante escola de samba do mundo – pois se é do Brasil é do mundo – Estação Primeira de Mangueira, minha paixão. E veja você, fiz questão de dar nome e cores, magia verde e rosa.


Já fiz muita coisa nessa minha vida, até de radialista já joguei. Advinha qual era o nome do meu programa? A voz do morro – homônimo do grupo que formamos anos depois, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros e eu – no qual só eram apresentados sambas inéditos, ainda sem título. Os nomes eram escolhidos pela audiência. Tudo idéia dela. Impossível passar por mim e não ver o meu amor. Eusébia Silva do Nascimento, a minha Zica. Daí o nome Zicartola. A humilde bodega que montamos serviu de palco para o namoro entre morro e asfalto depois que aquela moça, a Nara Leão, passou a freqüentar as cercanias. A malandragem agradece.


Mesmo com um sem-número de sambas compostos fui gravar meu primeiro disco solo eu já tinha 66. Tem nada não, foi até bom, o tempo é senhor. Hoje choro de alegria e não disfarço, pois minhas cordas de aço hão de fazer o sol brilhar mais uma vez. Corra o olha o céu.




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