quinta-feira, 13 de agosto de 2009


Paulo Padilha
Samba Deslocado Descolado Samba



De cara a capa traz um trocadilho. O nariz torce sozinho. Talvez seja sintoma dos espasmos anti-clichês que geralmente acometem os amantes de qualquer coisa quando se deparam com um. Mas este até que pintou com um certo ar vanguardista, ali, valendo-se do espaço gráfico como uma aventura planificada numa atmosfera quase concreta. O jogo cênico entregou logo que o som ali contido era samba, apesar de descolado, era também deslocado, felizmente deslocado. Coração e ouvidos abertos, mergulhemos na proposta de Paulo Padilha, baixista de ofício que neste projeto põe à prova quase vinte anos de carreira profissional voltando às raízes, ao violão, à composições instintivas escudadas por crônicas urbanas/cotidianas, amparadas pelo poder do groove essencialmente acústico imposto por violão, baixo e percussão. Célula sedimentada como força bruta do balanço brasil, criada pelo esquema novo de Ben nos idos de 60 e desenvolvida por outros tantos.
Neste Samba Deslocado Descolado Samba, seu terceiro disco de autor, o músico parece romper, ainda que circunstancialmente, com a rigidez da música instrumental brasileira e a disciplina que dela se exige, gênero para o qual contribuiu boa parte de sua trajetória atuando como baixista do grupo de paulistano Aquilo Del Disso que surgira com destaque nos 90 participando de festivais importantes mundo afora e tendo em sua discografia cinco álbuns lançados. No repertório, destacamos as primeiras faixas do play: “Bagunça” baseia-se em questionamentos pueris do tipo “se todo operário pode ser presidente por que o presidente não vira peão?”, ou ainda, “se até o crime tá organizado por que a minha vida tá uma bagunça?” e assim caminha, descontraída como um bom pagode de mesa regado a chá de macaco - como diria o mestre João Nogueira, referindo-se aos birinaites-. Depois, alternam-se matizes do samba. O samba-funk (“Love” e “Cabeça”), samba-de-breque em “Cobrador”, que escancara a relação a dois em caráter auto-biográfico. Também se destacam a versão para “Preconceito” de Wilson Batista e Marino Pinto, catapultada por João Gilberto, e a súplica por uma fatia do mainstream registrada na composição “Dia Santo Também”. Agora nos resta apertar o play de novo e deslocar nosso foco para a beleza da simplicidade presente no não-novo, no não-revolucionário, no mais verdadeiro.



Paulo Padilha_Bagunca | Online recorder

Nenhum comentário:

Postar um comentário