Paulinho da Viola, reconhecidamente gênio da canção, interpreta lindamente algo que ele mesmo escreveu como um bom leitor de si mesmo que é: "sem melodia ou palavra pra não perder o valor..." (Coisas do mundo minha nêga, originalmente lançada no play Memórias Cantando de 76). Sentença, paradoxalmente, de altíssimo teor semântico, pois reitera a limitação de nossa fruição icônica. A própria melodia, mesmo desatrelada do oral-verbal, da letra, entrega intencionalidades que invariavelmente não condizem com as pensadas pelo autor. O que dizer das palavras? A estas, reservo Fernando Pessoa: "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios!" Mesmo que nos esforcemos para buscar a terminologia correta, que carregue consigo o sentido exato... em vão. Mesmo a linguagem representativa/icônica dos sistemas operacionais/informáticos, que traduziram em imagens as mensagens do mediador universal do conhecimento, o número - e seu código binário -, ao menos arrisca-se na aventura de desvendar os descaminhos anímicos e psíquicos do ser.
Somos anti-naturais. Esta mãe segue seu fluxo intacta apesar de nossas ingerências. As formigas, abelhas e elefantes não trabalham. Suas atividades são imanentes. Subsistentes. Nós somos os únicos seres que trabalham abnegados para explodir a mais mais-valia e implodirmo-nos em um niilismo cada mais patente. Vidas desgostosas, sem romance, sem poesia. E aquele que clama por um fio de transcendência é duramente castigado, impiedosamente rotulado: um pessimista, um mal-amado! Daí a frase de Paulinho elevar-se em relevância: a harmonia(musical), suprimida na sentença, seria o campo fértil para a conotação, para o onírico, para o tempo suspenso e, sobretudo, para o sentido do que eu gostaria de te dizer todos os dias, todas as horas e minutos. Para o intangível. Ainda nos resta o self-voyerism. Conceito auto-explicativo, por ser etimologicamente óbvio, mas que pressupõe um distanciamento do objeto de análise. Você. Eu precisamente. Nós longe de nós.
Fala João. Legal o blog e muito massa o vídeo do Mestre Paulinho.
ResponderExcluirUm abraço. Renato.